segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Provedor do 'Público' exige "sinais claros e inequívocos" de isenção à direcção

O provedor do leitor do Público, Joaquim Vieira, voltou ontem a condenar as práticas jornalísticas do diário no caso das alegadas escutas a Belém e a criticar duramente a direcção de José Manuel Fernandes. Se na sua crónica da semana passada assinalou a falta de contraditório às notícias do Público de 18 e 19 de Agosto, que davam conta das suspeições de Belém que estaria sob escuta, ontem o artigo do provedor foi mais longe.

Espelhando a relação que neste momento existe entre o provedor e o director do Público, Joaquim Vieira começa a sua crónica por dar conta do "nervosismo" que o seu artigo de 13 de Setembro provocou no jornal e depois revela que José Manuel Fernandes, director do Público, lhe chamara "mentiroso" no seguimento dessa primeira crónica e declarara não voltar a responder a uma questão sua. Segue-se a denúncia de que "a sua correspondência electrónica, assim como a de jornalistas deste diário, foi vasculhada sem aviso prévio pelos responsáveis do Público".
Depois de todos os esclarecimentos pedidos aos jornalistas envolvidos na elaboração das notícias relativas às alegadas escutas de Belém, Joaquim Vieira conclui que houve "acumulação de graves erros jornalísticos praticados em todo o processo", referindo, logo de seguida, uma dessas falhas: "O Público permitiu que o guião da investigação fosse ditado pela fonte da Presidência da República."
A forma como Luciano Alvarez tentou ouvir Rui Paulo de Figueiredo, assessor jurídico do primeiro-ministro, ligando ao final do dia para um local que sabia não ser o seu habitual posto de trabalho, "não se coaduna com a seriedade e o rigor de que deve revestir-se uma boa investigação jornalística", escreve também Joaquim Vieira. Por esse motivo, o provedor entende que do "comportamento do Público resultou uma atitude objectiva de protecção da Presidência da República, fonte das notícias". Por tudo isto, o provedor do leitor deixa uma interrogação no ar, naquilo a que chama "uma questão mais preocupante" do que os erros jornalísticos apontados: "Haverá uma agenda política oculta na actuação deste jornal?"
Termina revelando que já suscitou diversas "observações sobre procedimentos de que resulta sempre o benefício de determinada área política em detrimento de outra". O que, defende, "não corresponde ao estatuto editorial" do Público. Por isso, defende: "É, pois, sobre isso que a direcção deveria dar sinais claros e inequívocos. Não por palavras (...), mas sim por actos."
O mandato anual de Joaquim Vieira como provedor do leitor do jornal Público termina a 31 de Dezembro.
Luciano Alvarez, contactado pelo DN, recusou comentar o artigo do provedor. José Manuel Fernandes também não atendeu nenhuma das inúmeras chamadas feitas pelo DN, mas à RTPN assumiu que não queria comentar a crónica de Joaquim Vieira. Hoje, a administração do jornal deverá reunir-se com José Manuel Fernandes para decidir as medidas a tomar. O DN tentou ainda contactar a administração do jornal mas tal também se revelou impossível (Fonte DN - por MARINA MARQUES).